ENTARDECER EM PETRÓPOLIS
Tardes de outono, tardes
Tardes de outono, tardes
De uma estação que talvez não reine
No ciclo de vida, sereno lirismo
De um mundo adeus; tranquilas
Tardes eternas, esquecidas tardes
Que a luz contempla indiferente,
Derramadas de sol manso, morno,
Dourado.
Tardes perenes de campanário, cantar
De sinos, calmaria de sons
Que ondulam no ar inerte; longas
Tardes melancólicas em que o fumo
Sobe das clareiras, e um desejo vago
Acompanha a revoada sem rumo das aves.
Tranquilos páramos da vida,
Pousadas da agonia, ingênuas
Tardes esquecidas, tardes abandonadas
E que o sol aquece a face
Fria das águas, que o verde das copas
Tinge de profundeza e frescor;
Por acaso, uma ponte ali se estende
Duplamente, uma cortando o ar, a outra
Mergulhada na paz do lago.
Estranha hora parada,
Estranha hora que se alonga
Não no tempo, mas na natureza estática
Das margens, nas folhas sobre o riacho,
Na velha ponte atapetada de limo.
Estranha hora; na maturidade do dia
O canto místico de sons perdidos,
O verde pulsante das altas colinas
Envolvidos na crisália do vento. Fim da tarde.
Nas margens ele passa e repassa,
Quebrando os acordes de uma lamúria
Infinita, altiva. Fim de tarde,
Fim de tarde.
Homenagem a Euclides Quandt de Oliveira